Tigelas Tibetanas (Singing bowls): quais os seus mistérios? — por Sylvia Sóglia
“Uma tigela tibetana é um tesouro. Um set de tigelas tibetanas que cantam juntas é um milagre.” (Santa Ratna Shakya and Shree Krishna Shahi)
O som é vibração, ritmo, movimento. Ele organiza o fluxo de energia no tempo e no espaço, além de ser a essência da vivência com as tigelas tibetanas, também conhecidas como singing bowls ou “tigelas cantantes”.
Embora sejam usadas há milênios como utensílio doméstico e em rituais xamânicos – principalmente budistas – somente na metade do século XX, as tigelas começaram a ser estudadas como instrumento para tratar e curar males do corpo, da mente e do espírito.
E por que tal experiência pode repercutir tão profundamente? Como 70% do nosso corpo é composto de água, quando elas são tocadas próximas ou sobre ele, a vibração sonora cria uma mandala de energia que se propaga, como uma pedra quando atirada num lago.
Assim, quando estamos abertos e receptivos à vivência do sensível – num convite a senti-lo e não a decifrá-lo – estabelecemos uma possibilidade real de expandir a nossa consciência.
Esta percepção apurada é possível porque o nosso corpo é moldado por experiências estéticas, ele dá forma ao invisível que está em nós: “A música é a forma por excelência pela qual a consciência se transforma em vivência e a vivência retorna a consciência”. (Toro, 2002).
Um concerto de tigelas tibetanas é uma experiência em que o um corpo receptivo, ao ser massageado pelo som, torna-se o próprio som e recria, assim, uma música própria.
Afinal, todos temos uma vibração que é a nossa assinatura de saúde e bem- estar. E, assim como acontece com um instrumento musical, quando saímos da nossa afinação, ficamos em desarmonia, com o fluxo de energia bloqueado, mais suscetíveis a desenvolver padrões negativos na vida.
GESTOS COMPARTILHADOS
“Há uma canção acontecendo o tempo todo em meu corpo, conectando-me a outras canções e frequências…onde sou um com minha canção…” (Cecília Valentim)
Tradicionalmente, as tigelas são forjadas manualmente em oficinas de fundição, um processo de criação cada vez mais raro hoje em dia.
Cerca de 3 ou 4 pessoas ajudam a confeccioná-las, sendo que uma segura a mistura dos metais no fogo, uma ou duas martelam e o último participante traz os cânticos, as rezas e os mantras para o ritual de feitura.
São usados sete metais puros na fabricação de cada tigela, que influenciam a qualidade da vibração e do som produzido: chumbo, estanho, ferro, ouro, prata, cobre e zinco. Na verdade, o mercúrio – um oitavo elemento – também é inserido.
E qual o seu papel? Ele é colocado numa quantidade muito pequena, somente para purificar os outros metais em suas formas líquidas. Desta forma, separa as impurezas que podem estar presentes, evaporando rapidamente, sem deixar qualquer vestígio aparente.
SINFONIA HARMÔNICA
Como resultado, cada metal, individualmente, tem o seu som distinto e, em combinação com mais um ou vários metais, cria harmônicos (ondas específicas de vibração que têm a propriedade de causar ressonância), que diferem de tigela para tigela, dependendo da liga usada.
Assim, consideramos a presença de 7 metais, que são relacionados a 7 planetas, 7 chakras (centros energéticos presentes no corpo humano) e 7 notas musicais, sendo que em cada tigela pode ser afinada numa nota musical específica para atuar em cada um dos chakras.
Toda esta conexão também é objeto de interesse da ciência. Estudos realizados por Jeffrey Thompson, do Centro de Pesquisas Neuroacústicas do California Institute for Human Science, demonstraram que os sons das tigelas são virtualmente idênticos aos produzidos pelos anéis de Urano.
O pesquisador sugere, ainda, que as reverberações das tigelas sejam poderosamente curativas justamente em virtude da semelhança existente com os sons primordiais do espaço sideral, o som da nossa essência cósmica.
No dia a dia, usamos bastões de madeira revestidos de couro, que se movem em torno da borda da tigela, produzindo o som. Também usamos baquetas com feltro na ponta, tocadas em um movimento de “cima para baixo”.
A qualidade do som produzido é controlada tanto pela rapidez da movimentação do bastão, quanto pela força que a baqueta toca a tigela.
Pode-se dizer que as tigelas – com os seus sons ressonantes – são um meio através do qual a harmonia do nosso “Ser” pode ser restaurada nos níveis físico, mental, emocional, energético e espiritual.
E, apesar do som ter tais poderes, não podemos nunca deixar de colocar nossas intenções, propósitos positivos e claros para que nossos objetivos sejam alcançados.
O COMEÇO DE TUDO
“Som é energia,
Som é cor,
Som é forma,
Som transforma a forma,
Som pode curar.”
(Anneke Huyser)
Existe, até hoje, uma aura de mistério e certa curiosidade sobre o uso das tigelas tibetanas. Há relatos de que, entre os próprios Lamas (mestres ordenados que se dedicam a transmitir os ensinamentos budistas), elas eram usadas apenas em rituais secretos por aqueles reconhecidos como mestres dos sons. Não eram nem usadas em público, nem mesmo entre os monges.
“É muito provável que os religiosos tibetanos tomassem grande cuidado para ocultar informações acerca do uso das tigelas, porque os seus tons e harmônicos contêm uma grande riqueza de conhecimento sobre o cosmos e todas as suas verdades. Nas palavras do monge tibetano Lama Thupten Lobsang Leche: “O som da tigela é o som do vazio”. (Mitchell L. Gaynor)
Embora não se tenha registro de quando o nome singing bowls foi descrito, sabe-se que o interesse por tais objetos e outros de valores espirituais – como címbalos, tingshas, sinos e vajras – se intensificou quando viajantes ocidentais chegaram ao Nepal, Tibete e Índia, ainda nas décadas de 50/60.
Já músicos contemporâneos têm utilizado as tigelas como instrumento musical. E a inegável beleza dos sons que produzem tem permitindo que as pessoas conheçam o seu potencial para além de uma ferramenta de tratamento e cura. Como instrumentos musicais, nos colocam em ressonância com as vibrações de nossa própria essência e do universo.
Quer saber mais sobre as tigelas tibetanas?
Confira a lista de leituras sugeridas:
- How to Heal with Singing Bowls – Traditional Tibetan Healing Methods – Suren Shrestha (Sentient Publications edition 2013).
- Singing Bowl – Tuning the Mind / Healing the Body – Santa Ratna Shakya and Shree Krishna Shahi (Salil Subedi edition 2015).
- Singing Bowls – A Practical Handbook of Instruction and Use – Eva Rudy Jansen (New Age Books edition 2004).
- Singing Bowls – Exercises for Personal Harmony – Anne Huyser (New Age Books edition 2006).
- Sons que Curam – Mitchell L. Gaynor (Editora Cultrix 1999)