“A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm:
requer parar para pensar,
parar para olhar,
parar para escutar,
pensar mais devagar,
olhar mais devagar, e escutar mais devagar;
parar para sentir,
sentir mais devagar,
demorar-se nos detalhes,
suspender a opinião, suspender o juízo, suspender à vontade, suspender o automatismo da ação,
cultivar a atenção e a delicadeza,
abrir os olhos e os ouvidos,
falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão,
escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito,
ter paciência
e dar-se tempo e espaço…” (Larrosa Bondía,2014)
Inspire, expire!
Sentir sua própria existência é, em última análise, sentir-se vivo!
Vivemos em corpos que se tornaram desconhecidos por nós mesmos.
Tornamo-nos pessoas ligadas no piloto automático, com horários, com expedientes e múltiplas tarefas a cumprir, mas sem tempo para viver plenamente as nossas múltiplas possibilidades de vida.
Há um esvaziamento, uma ausência de sentido em muita coisa que fazemos e a vida passa a ser algo de natureza quase autônoma.
O nosso próprio corpo passa quase a ser algo que não mais nos pertence.
Ele passa a se adaptar a todas as circunstâncias às quais o submetemos para ser aceito e acolhido pela cultura dominante, e tornando-se um corpo social idealizado, normatizado e obediente.
Um corpo que é também rodeado por tudo aquilo que o determina, o restringe, o prepara e o vigia. Passa a ser um corpo excluído de tudo que faz dele um corpo único, singular em suas próprias experiências.
Nossos corpos se tornam perdidos em sua sensibilidade e autonomia.
A mente ocupando todos os espaços, se perde em pensamentos incessantes, preocupações, imaginações, em memórias, deveres e afazeres.
Ela assume o comando e nos deixa à mercê dos nossos sentidos que nos conduzem todo tempo para fora do corpo, muitas vezes levando-o à exaustão.
Escapar da captura da mente, do que é social, familiar, cultural etc., e fazer uso do corpo de forma consciente é um ato de resistência e coragem.
Quando nos colocamos em experiências que não se rendem ao que foi estabelecido pelo sistema da mente, encontramos um lugar novo, de criação e fruição interior. São experiências em que o corpo se deixa atravessar pelo que é sensível em sua potencialidade, singularidade e individualidade, através de movimentos, gestos, posturas corporais, da respiração e de outros estímulos sensoriais.
O que é sensível a cada corpo e o que é trazido em sua singularidade faz com que nos aproximemos de quem realmente somos em essência.
Estar em contato com o corpo em suas potências e em sua sensibilidade interior, traz-nos a possibilidade de acessarmos o divino em nós.
E é nesse lugar que o inesperado acontece!
O lugar onde se é atravessado pelo silêncio interior, num corpo imóvel, mas pulsante de vida!
Você descobre que é possível meditar!
As práticas meditativas nos trazem à estados de abertura para os órgãos dos sentidos internos. São experiências da ordem do desconhecido muitas vezes e é fundamental termos consciência de como isso acontece dentro de nós. Isso gera autoconhecimento.
Diferentes práticas nos levam à observação, do sentir, do perceber o corpo e suas sutilezas no espreguiçar, no respirar e na imobilidade e todos nós podemos escolher qual delas é que nos pode ajudar nessa jornada do autoconhecimento.
São jornadas que nos apresentam ao sensível, às sensações e percepções de paisagens novas trazidas pela movimentação interna mesmo estando na imobilidade externa.
O corpo físico tem acontecimentos fora do seu controle, tem uma vida interna que pulsa mesmo quando estamos imóveis.
A imobilidade do corpo é o primeiro passo no aprofundamento das sutilezas internas que acontecem dentro dele.
Através da postura correta da imobilidade do corpo, conseguimos um maior equilíbrio e controle dele. A estabilidade e conforto são fundamentais para o apaziguamento da mente nesse processo de autoconhecimento ao acontecimento meditativo. Sem conforto o corpo e a mente se retraem no desconforto, não se tornam abertos para os novos e inesperados acontecimentos.
O corpo silencioso e imóvel, sem pressões ou tensões, se torna firme e agradável, liberando a mente para um ficar atento e concentrado inicialmente nas impressões vindas dos 5 sentidos, para depois ir levando essas observações e percepções para um olhar mais internalizado. E a mente estável passa a ser observadora e não juíza do que está acontecendo.
É estar presente, é estar no corpo que habitamos!
Chegar nesse estado é sempre uma longa jornada, e muitos a chamam da jornada do herói. O primeiro passo sempre será a busca pelo autoconhecimento e, para isso, conhecer o corpo em sua sensibilidade e sutilezas é fundamental. É imprescindível conhecer a mente, trabalhar a respiração e chegar à imobilidade do corpo, ao desacelerar da mente, num estado de silêncio interior.
Estar na busca desse estado faz parte da natureza humana, mesmo se ainda não sejamos conscientes disso.
É a procura pela tão almejada felicidade! Quando nos conhecemos um pouco mais profundamente, nosso “eu/ego” deixa de agir o tempo todo e podemos compreender que estamos todos conectados e unidos como infinitas partes da unidade criadora.
Somos “UM” em essência!
Como tudo, absolutamente tudo, faz parte das nossas escolhas (sejam elas conscientes ou inconscientes), o que sucede também é fruto de nossas próprias decisões. Assim, quem quiser chegar a esse lugar terá que fazer uso da sua força de vontade, disciplina, paciência e persistência. Mas podem ter certeza, valerá a pena! E é nesse lugar que o inesperado acontece!
O lugar onde se é atravessado pelo silêncio interior, num corpo imóvel, mas pulsante de vida!