Por: Sylvia Sóglia
São Paulo, 22 de abril de 2022
“O afeto é revolucionário!”
Caros amigos do “Caminho do Sertão”,
Muito prazer, sou Sylvia Sóglia, tenho 60 anos.
Cheguei por aqui num acaso?
Não, não acredito em acasos….mas sim em sincronicidades!
Sim, ela existe! E vem me acompanhando a tempos, desde que me conectei um pouco mais com os mistérios da vida.
Em 2019, cheguei a um lugar, naqueles tempos…tempos do início desse desgoverno em que questionei profundamente a razão da nossa existência.
Sempre fui uma pessoa otimista, mas naquele momento entrei em total desalento, desencanto e descrença pelo ser humano.
Mas…eis que surge sem eu sonhar, o “Esperançar”. (Paulo Freire)
Em um prazo de poucas semanas, me juntei a um voluntariado com a Ong Reviva em uma missão à Moçambique – África.
Algo se fez vivo novamente!
“Quem elege a busca não pode recusar a travessia.” (Guimarães Rosa)
A tempos venho fazendo incursões do que chamo de peregrinações, que através do meu “ser” viajante, tenho sido levada a lugares inesperados dentro e fora de mim mesma.
Nesses tempos incertos vividos por nós nesses últimos tempos, me senti sufocada, me pegando em vários momentos sem respirar.
Não conhecia a música da Fafá de Belém apresentada por vocês, mas “Respira, aprende a respirar. Se tu só pira, mas não respira, não vai dar.” Me conectei, fez sentido conhecê-la.
Assim foi…fui retornando! Respirando!
Respirando, fico cada vez mais consciente que o ser que habita em mim acredita no esperançar. A vida necessita de novas narrativas para se fazer realmente viva.
No ser viajante que sou, ser peregrina é não ter destinos, mas sim experiências. É não ter rotina, mas sim roteiros.
Como profissional da saúde e da arte, acredito que a “cura” está ao alcance de todos se oportunidades lhe são oferecidas.
Acredito que dessa forma podemos construir um mundo mais solidário.
Nesse propósito de construção de um mundo melhor, com desapegos, novas motivações e intenções individuais pelo coletivo, podemos através de novas narrativas nos fortalecer e trazer coisas melhores para todos.
Uma viagem como essa do “Caminho do Sertão” com certeza trará aos caminhantes-viajantes-peregrinos em seu roteiro existencial um lugar em que não se podem refugiar…mas sim, ir além de nossas crenças, hábitos, pré-conceitos e julgamentos.
Ter acesso a outras pessoas, paisagens, culturas e abrir-nos para recebê-las é poder se conectar com nossos vínculos de ancestralidade e de afetos com o ser humano que somos.
Para nos abrirmos para novas narrativas, temos que estar abertos primeiramente a nós mesmos.
Abertos ao “sussurro sem som onde a gente se lembra do que nunca soube”. (Guimarães Rosa)
Só com autorrespeito e amor próprio podemos respeitar nossa humanidade, respeitar o outro, o meio ambiente e o planeta.
O amor incondicional brota!
Ao nos colocarmos em marcha num propósito comum em nosso caminho da vida, nesse registro existencial a nossa humanidade se fará presente.
“O real não está no início nem no fim, ele se mostra para a gente é no meio da travessia.
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afronta, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”. (Guimarães Rosa)
E que “o amor nos descanse da loucura!”
É assim…que eu gostaria de estar com vocês nessa travessia, aberta a compartilhar o que eu tenho de melhor de mim mesma, naquilo que sustenta a minha, a nossa vida, o nosso propósito de cura em nossa amplitude existencial!
Que assim seja!
Calorosos abraços,
Sylvia Sóglia
P.S Faz 30 anos que não escrevia uma carta manualmente e coloca-a no correio, obrigada por essa oportunidade! Genial!❤️